Diálogo: a essência da conciliação

 

Já que os conflitos fazem parte da vida em sociedade, é preciso compreendê-los e superá-los. Para isso, o homem dos dias atuais precisa driblar a postura individualista em prol do estabelecimento de vínculos e do diálogo. Essas foram algumas das reflexões trazidas pelos palestrantes que integraram a mesa-redonda “Conciliação e contemporaneidade: a concepção do homem moderno”, realizada na última terça-feira, 23 de novembro, durante o 1º Congresso Mineiro de Conciliação. O evento foi promovido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e contou com cerca de 1,4 mil pessoas inscritas, de diversas comarcas do Estado.

A mesa-redonda foi coordenada pelo servidor da Assessoria de Comunicação Institucional (Ascom) do TJMG Marcelo Almeida e teve como palestrantes o sociólogo Juracy da Costa Amaral, o advogado Francisco Maia Neto e o psicólogo e filósofo José Paulo Giovanetti. Em sua fala, Juracy, que é também professor e pesquisador sobre criminalidade, violência e segurança pública, destacou que a sociedade tem natureza conflituosa. Para ele, o cenário atual favorece a propagação do medo e do terror entre as pessoas. Tudo isso, na opinião do sociólogo, alimenta o ódio das pessoas.

“Para superar esse medo, é preciso estabelecer vínculos de confiança. Nossos espaços de convivência precisam deixar de ser preenchidos por coisas sem sentido. Um dos fatores de agravamento desse cenário social é que as instituições que deveriam nos proteger se mostram enfraquecidas”, pontuou Juracy. O sociólogo lembrou que os conflitos nunca terão fim na sociedade. Então, é preciso compreendê-los e superá-los. Para isso, um dos caminhos é informar as pessoas sobre a conciliação e suas possibilidades.

Novo paradigma

Juracy afirmou que um dos caminhos para lidar com essa sociedade em permanente conflito é a busca pelo estabelecimento de vínculos, que levem o homem a não se apropriar de tudo o que ele acredita que vai lhe garantir proteção. “Para viver em sociedade, precisamos encontrar o outro e abrir mão de alguns de nossos desejos. Estou falando de um novo paradigma cultural: ser em vez de ter”, defendeu.

O advogado Francisco Maia Neto, da Comissão de Mediação e Arbitragem da Ordem dos Advogados do Brasil – seção Minas Gerais (OAB-MG), foi o segundo palestrante a falar. Ele lembrou a atitude pioneira da OAB-MG com a realização da primeira Semana da Conciliação e Mediação, que ocorreu de 23 a 27 de agosto deste ano. O evento, que teve apoio do TJMG, mobilizou advogados mineiros e chamou a atenção para a importância do diálogo na solução dos litígios. “Fomos procurados por advogados de outros estados, que sugeriram que a iniciativa seja estendida a toda a OAB. Então, queremos propor a realização, em 2011, de uma Semana Nacional de Conciliação e Mediação. Este é um movimento de cidadania”, disse.

Em sua fala, Francisco Maia afirmou que é preciso estimular os advogados a trabalharem não apenas para o fim dos litígios que estão na esfera judicial, mas pelo fim dos conflitos. “Às vezes, o Judiciário coloca um ponto final no litígio, mas o conflito pode ser potencializado entre as partes”, lembrou. O advogado afirmou que é preciso uma mudança na cultura e no sistema, que são adversariais: “O advogado é o primeiro juiz de uma causa. Ele precisa atuar como um conciliador. O país caminha para 100 milhões de processos em tramitação e é preciso apontar saídas”.

Vida “light”

Em sua palestra, José Paulo Giovanetti, professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) e da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead), em Belo Horizonte, enumerou o modo de ser da sociedade contemporânea e apontou os impactos desse estilo na vida das pessoas. “Vivemos em um mundo individualista, em que as coisas superficiais nos seduzem mais. É o modo ‘light’ de encarar todas as coisas”, descreveu. Esse cenário que privilegia o “light”, no entendimento do filósofo, tem pontos positivos e negativos.

Se por um lado, há um enfraquecimento dos laços afetivos, o encurtamento das distâncias e mais impessoalidade nas relações, por outro, há uma sociedade mais pluralista e tolerante. Os desafios, ele lembrou, são também mais complexos: “Nesse cenário, não adiantam soluções fáceis; precisamos de soluções sensatas”. E é nesse contexto que a conciliação ganha papel de relevância. Para José Paulo, as partes de um processo precisam tomar consciência da complexidade dos problemas e ter a percepção de que os direitos individuais não devem levar a um esvaziamento do que é outro, do que é distinto. O filósofo acredita que a conciliação passa pela necessidade do diálogo e pela vivência do bom senso.

Depois das exposições, os palestrantes responderam às perguntas da plateia. Nesse momento, defenderam o resgate dos vínculos afetivos, que só pode ocorrer quando o outro se torna significativo. Sugeriram ainda a busca da cordialidade e do encantamento com a vida e a convivência. “Devemos estar abertos ao diálogo e ao que o outro quer dizer, e não ao que desejamos escutar. Temos que compreender o outro, sem colocar na boca dele o que imaginamos. Vivemos em sociedade e é nela que devemos encontrar saídas”, disse José Paulo.

 

 

 

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