A era do pós-shopping

Publicado em 30 de setembro de 2014

O boom imobiliário registrado no Brasil desde o ano de 2008, que resultou em um crescimento significativo da indústria da construção civil, se refletiu em todos os segmentos desse vasto mercado, começando pelo setor residencial, passando pelo comercial e industrial, e chegando aos shoppings centers, que se multiplicam não só nas grandes cidades, onde sempre pontificaram no cenário urbano, mas também nas de menor porte.

Em algumas localidades a possibilidade entre empreendimentos dessa natureza levou a um questionamento até mesmo de sua viabilidade, pois resultava em uma sobreposição no consumidor primário, aquele que mora ou trabalha bem próximo ao centro de compras, o que também resultou em uma discussão de especialistas sobre o modelo tradicional dos shopping centres, cujo mix atrai compradores que ali levam seu dinheiro para trocá-lo pelos mais diversos produtos.

Talvez a resposta para essa evolução esteja em um prédio de seis andares na cidade de Berlim, capital da Alemanha, erguido nos anos 50, situado junto à estação de metrô do zoológico local, famosa por ter sido cenário do filme que retratou a vida de Christiane F., a jovem adolescente viciada em heroína, que se tornou símbolo de uma geração.

Com 25 mil m2 de área construída, e dividido ao meio por um vão, este edifício localizado próximo à Gedachtniskirche, a famosa igreja bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial, cuja torre semidestruída continua intacta para marcar a memória dos combates, ganhou o curioso apelido de “biquíni” pelos habitantes locais, exatamente por lembrar esta peça do vestiário feminino, que seria o “repartido em dois”.

O prédio foi adquirido no início dos anos 2000 por uma grande empresa imobiliária alemã, sendo estudado por sete anos por seus executivos sobre o futuro aproveitamento, que deu origem a um novo conceito de shopping center, denominado Bikini Berlin, que não traz a concepção tradicional que conhecemos hoje, com iluminação artificial e as mesmas lojas de sempre, até porque existiu ali a preocupação com o significado histórico do local.

Após longas pesquisas com as ideias mais inovadoras em varejo que se praticou no mundo, concluiu-se que as pessoas querem mais do que um lugar para fazer compras, elas esperam um espaço para comer, onde possam relaxar, e que signifique um refúgio para o ritmo da cidade, assim foi mantida a fachada clássica, o teto de vidro permite iluminação natural, o corredor é único, com 200 metros, lembrando uma galeria de rua e a existência de uma parede de vidro integra a vizinhança ao ambiente do shopping.

Embora o empreendimento abrigue lojas no formato tradicional, com contratos de locação clássicos, seu conceito dispensa, por exemplo, as lojas-âncoras, estando alicerçado na apresentação de produtos novos, especialmente em boxes que variam de 19 a 39 m2, na criação de um ponto turístico, alicerçado em um terraço de 7 mil m2, onde situam-se restaurantes e cafés, com uma bela vista, e uma associação com a arte.

Na análise dos mais céticos, a existência de marcas desconhecidas inviabiliza este conceito, mas seus defensores acreditam que os lojistas ali instalados procuram mais do que vender seus produtos, pois querem é divulgar suas marcas, o que somente o tempo poderá comprovar se esta fórmula será eficaz, uma vez que seu sucesso estará relacionado à capacidade de apresentar constantemente novidades ao público usuário.

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